O meu gajo faz anos hoje. 25 anos. Funfundzwanzig como aprendemos, há uns dias, na aula de alemão, que temos juntos aos sábados.
Telefono para casa dele e dizem-me que ainda não chegou. De fundo, consigo ouvir vozes a cantar, felizes. É a minha sobrinha e a minha cunhada. Noto que o ambiente é de festa. Só ele não está. E eu. Nós dois. Duas cartas fora do baralho, duas meias que estão perdidas e que não "casam" com mais nenhuma, duas almas avulso. Nós dois, faltamos. Ou antes: "faltamo-nos". E contra isso, nada. A distância é uma merda. Ponto final.
E que não me venham com romantismos baratos, afirmando que um telefonema é tão aconchegante, que só a voz daquele lado já basta para nos sentirmos bem, porque um telefone não nos abraça quando precisamos, não nos limpa as lágrimas quando choramos, não nos faz uma canja de galinha quando estamos com gripe, não nos segura na cabeça enquanto vomitamos, nem nos vai buscar uma manta para nos tapar se adormecemos no sofá e faz frio. E também não janta connosco num dia como este.
E neste dia em que era suposto estar aí, mas estou aqui e em que tu ainda nem sequer estás em casa, volto a cravar os meus olhos no nada, no absurdo da realidade e no ridículo de mim, da prenda embrulhada e pousada em cima da mesa, que não te poderei dar, e do meu prato de sopa, servido quase frio - neste dia que é de festa...
Hoje, como em tantos outros dias dos últimos anos, estou sózinha. E que ninguém me diga o contrário.