terça-feira, 24 de maio de 2011

Enjoo. Náusea profunda, mas silenciosa, inteira num olhar calmo, pousado em nada, pousado sempre na mesma coisa.
Enjoo. Da paz, do silêncio, do sol. Da beleza e da ordem, que existem, apesar de mim.
Enjoo. Dos passos solitários, um a seguir ao outro, sempre com a mesma cadência, mude o soalho, mude o sítio.
Enjoo. Da respiração, acto contínuo; do ar que entra e sai, entra e sai do corpo e fica tudo igual. E quando às vezes um suspiro, enjoo do suspirar atirado ao ar.
Enjoo. “Está tudo bem?”, “Vai-se andando.” “Benzinho.”, “Pois é, tem de ser.” Vai-se andando. Benzinho. Tem de ser. Brandos costumes. E encolhem-se os ombros. Enjoo.
Enjoo. Da resignação, da conformidade com tudo e com todos, um leve suspiro e um encolher de ombros como manifestações únicas de uma vontade contrária a uma vontade maior.
Enjoo. De todas as vontades serem maiores que a minha. De não haver revolução, cá dentro; nem um levantar último da espada.

Enjoo. De me ter entregue.

Entreguei-me.

domingo, 15 de maio de 2011

fica-se muito zangado como pessoa. não se criem dúvidas acerca disso. fica-se zangado e deseja-se aos outros pouco bem, e o mal que lhes pode acontecer é-nos indiferente ou, mais sinceramente, até nos reconforta, isso sim, como um abraço de embalo, para que não se ponham por aí a arder como o sol e, sobretudo, não nos falem com uma alegriazinha ingénua, de tempo contado, e nos façam perceber o quanto éramos ingénuos e nunca nos preparáramos para a derrocada de todas as coisas. nunca nos preparamos para a realidade.


(in "a máquina de fazer espanhóis", valter hugo mãe)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Momentos

- O que fizeste tu, quando viste a Torre Eiffel?

Bem, olha, quando eu vi a Torre Eiffel pela primeira vez, chorei.

Sabes porquê?

Porque a primeira vez que a vi foi quando fui a França, em estágio, para o Instituto Francês do Petróleo, durante seis meses. Por isso o que senti quando vi a Torre Eiffel – há muito tempo que queria ir a França -, foi que a estava a ver como resultado do meu esforço e do meu trabalho. No curso fui escolhida entre muitos colegas porque era boa aluna. Por isso senti-me deslumbrada, quando a vi.

- Pois eu admiro-te como à Torre Eiffel.