Hoje apetece-me escrever um texto inflamado sobre as mulheres que são como eu, ou seja, mulheres desenrascadas.
Isto porque quando vinha a conduzir para casa, o vidro do lado do pendura, caiu, sem mais nem porquê, razão pela qual vim com os cabelos ao vento, durante todo o trajecto. O que vale é que até é Verão e tudo e está tanto calor que levar com vento frio é mesmo aquilo que apetece!
Estacionei o carro, de vidro (obviamente) aberto, e fiquei sentada uns bons cinco minutos a pensar no próximo passo a dar. É certo que o carro estava na garagem, mas como seria no dia seguinte, quando fosse para o trabalho? Não podia deixar o vidro assim. Ainda não tinha lanchado e tive o discernimento de pensar: "Isto o melhor é ir lanchar e depois pensar no assunto." (Reparem só no estilo calmo e sensato, que nada tem a ver com as histerias normalmente atribuídas a mulheres em pânico).
Lanchei calmamente, mas sempre com o cérebro bastante activo. Quando acabei, fui à casa-de-banho, recolhendo a pinça que normalmente serve para arranjar as sobrancelhas e o alicate de arranjar as mãos. Não, não sou assim tão parva que não me tenha previamente lembrado de um alicate de pontas, mas à falta de melhor, utilizei os utensilios de beleza de que dispunha. É claro que me lembrei também de levar um pano, para que não houvesse contacto directo entre o vidro e a pinça ou o alicate, de modo a não o riscar. E lá fui eu. Com serenidade e grande estilo lá tirei o casaco, pousando-o em cima do banco e acendi a luz do interior do carro, procedendo de imediato à operação de resgate do vidro. Dois minutos depois, o vidro estava na minha mão e pude recolocá-lo no seu sítio - onde ficará até que eu leve o carro à oficina. Tranquei o carro, pus as "ferramentas" no bolso, agarrei no casaco com um dedo e atirei-o para as costas, enquanto abanava o rabo e saía do local da cena repetindo para mim mesma: "missão cumprida". Pena tive de não haver audiência, em especial masculina. (Como eu adoro quando dois ou três velhotes, sem melhor ocupação, ficam à espera que o embate se dê, sempre que vou estacionar em qualquer sítio das redondezas e eu estaciono à primeira, com a maior classe do mundo!).
Portanto aqui está: mais uma para a minha listagem. Eu arranjo o meu carro, eu mudo um pneu se disso houver necessidade, eu arranjo o meu esquentador sózinha, eu monto os meus móveis e sustento uma casa... A única coisa assim de maior que me está a ocorrer que eu não faço é ficar agarrada às partes a choramingar se levar uma bolada em certo sítio, mas isso, que eu me recorde, não é essencial para nada, pois não?
Bom, mas para acabar partilho convosco a minha ideia de que a culpa de muitas vezes os homens não nos verem como iguais é das próprias mulheres: em primeiro lugar, o elemento que tradicionalmente se ocupa da educação (tantas vezes machista) é a mãe e depois há que convir que há para aí muita "dondoca" que nem sequer sabe pôr gasolina no carro sózinha - fazendo jus ao que os ilustres cavalheiros pensam de todas nós. Além disso, argumentos machistas são, regra geral, bem recebidos por outros homens, uma vez que têm o grande poder de assim, de rajada, afastar mais de 50% da concorrência (note-se que há mais mulheres no mundo do que homens) - que, se sabe, é por norma mais letrada, mais organizada, mais empática e visualmente mais atractiva. Espertinhos eles, hein?!
E que se acabe de uma vez com a bandeira da "força física", porque hoje em dia as palavras de ordem são mais "jeito" e "inteligência" do que "força". A Era do Homem das Cavernas ficou lá para trás no Paleolítico!
E assim acabo.
Pensem nisto.