Diz lá, oh Quim!, o que pensas tu do mundo. Tu que estás preso a uma cadeira de rodas e dobras a língua quando queres falar; diz lá o que pensas do mundo. Tu, que mesmo com todas as tuas limitações, te entregas a Deus e aos outros, como podes e sempre que podes. Tu, que com as tuas mãos, abres devagarinho e com dificuldade uma palete de leite e distribuis os pacotes pelos sacos que preparamos para quem precisa; diz lá, o que pensas do mundo.
Gostava de saber o que pensas do mundo, Quim. Vês pessoas a correr, pessoas que passam por ti de fugida e que não consegues alcançar. Pessoas preocupadas com pequenos nadas, que correm em vão e se perdem no vazio. Vês guerras, vês gente que deixou de comunicar, vês sofrimento, vês maldade. E assistes a tudo, como espectador atento, sentado na tua cadeira, onde te habituaste a viver… Não podes andar nem podes correr, como fazem os outros. Mas no teu rosto, habituei-me a ver desde sempre um sorriso aberto como uma flor; um sorriso cândido que apenas permite vislumbrar um bocadinho da doçura do teu coração. Porque é tão doce o teu coração, Quim! E agora te revejo, ainda a acenar, quando me viste. Ficaste tão feliz! Uma felicidade talvez inesperada para quem vive como tu, obrigado a uma cadeira de rodas. E disseste-me devagarinho e com dificuldade, quando te cumprimentei com um beijo na face: “Oh, Rita!, gosto tanto de ti!” E sorriste com ternura, um pouco envergonhado, como criança inocente.
Por isso te peço; a ti, que estás no mundo sem ser do mundo; tu, que tantas vezes suspiras, absorto, olhando para um ponto indefinido no horizonte; tu, que tens um coração enorme, maior do que o planeta – diz lá, o que pensas do mundo.
A um amigo.
Por isso te peço; a ti, que estás no mundo sem ser do mundo; tu, que tantas vezes suspiras, absorto, olhando para um ponto indefinido no horizonte; tu, que tens um coração enorme, maior do que o planeta – diz lá, o que pensas do mundo.
A um amigo.
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