terça-feira, 18 de agosto de 2009

Querida Filipa:

Lembro-me como se fosse hoje daquele dia em que, no bar do Pavilhão Central, falámos pela primeira vez. Nesse dia, rimos as primeiras de muitas gargalhadas que viríamos a partilhar. Longe vão já os tempos em que, sentadas no Anfiteatro de Química, “gramávamos” aquela “estucha” que eram as aulas de Química das Soluções Aquosas (tão radiantes ficámos quando conseguimos calcular o pH da solução!) ou de Química Orgânica. Lembras-te das aulas de Física (“Alguma dúvida aí atrás?”) e de quando já nos doía a barriga de tanto rir por causa do cálculo da densidade do urso polar?!
Lembro-me de, comigo, esperares o comboio da linha de Sintra, em Massamá, às vezes, as duas debaixo do teu guarda-chuva (quando podias estar já em casa!). Lembro-me de quando me senti mal durante e depois do exame de Termodinâmica de Engenharia Química e de que ficaste comigo e me obrigaste a comer um palmier simples (que me ía fazer bem, dizias tu, porque eu estava em fraqueza - apesar de eu ter vomitado tudo a seguir!).
Pela nossa amizade, tivemos medo de ficar juntas nos mesmos grupos de trabalho. (Quantas amizades se perderam em grupos de trabalho no Técnico?!). Mas decidimos arriscar e a verdade é que, na adversidade, a nossa amizade cresceu ainda mais. Sobrevivemos a tudo! Tudo! Juntas fizemos até entregas em casa do professor às 23h58min, quando o prazo terminava no mesmo dia, à meia-noite! Mesmo em situações de stress, divertiamo-nos sempre: o Rui ía a correr enfiar os relatórios debaixo das portas dos gabinetes dos professores dos laboratórios: estava ele no quinto andar da Torre de Química, ainda nós estávamos a sair do metro da Alameda! Mas conseguimos sempre cumprir os prazos, entregar os trabalhos (quase sempre, quase perfeitos). Recebemos elogios e críticas. E ambos dividimos de igual forma. Alegrámo-nos pelas vitórias uma da outra. E se há coisa de que tenho saudades do meu tempo de estudante no Técnico, é de ti. E da nossa amizade. Tenho hoje a certeza de que, sem a tua paciência, companheirismo, alegria e amizade, teria sido infinitamente mais difícil passar aquela etapa da minha vida.
Se tivesse que resumir a tua passagem na minha vida, durante os nossos tempos de estudantes do Técnico, penso que poderia simplesmente dizer: foste uma presença constante, como só os bons amigos sabem ser. Em todos os momentos, bons e maus, para rir ou para chorar, estiveste lá. Até mesmo no jantar em que conheci o meu mais-que-tudo, estavas ao meu lado e juntas pudemos rir daquele jantar!
Ontem, queria ter estado ao teu lado quando acordasses da operação. Mas a vida está organizada desta forma, em que temos de prioritizar tudo, excepto aquilo que é realmente importante. E não consegui! Desculpa.
Deixo-te aqui as minhas palavras, para que as descubras quando saíres do Hospital e já conseguires chegar até ao computador.
Por trás da tua aparência pequenina (não, não estás mais gorda!), eu sei que se esconde uma grande mulher, cheia de vontade, coragem e força; capaz de mudar o mundo! E se não chegares a mudar o mundo, não tenhas pena: fica a saber que pelo menos, mudaste o meu.
Rápidas melhoras.
Saudade, desta tua amiga.

1 comentário:

  1. De ti não poderia esperar outra coisa: OBRIGADA! Acredita que, no meio daquelas adversidades todas que se sentem quando se "vive" o IST, tu eras um porto de abrigo. E neste momento, apesar de nem sempre estarmos juntas, continuas a ser uma GRANDE amiga, daquelas que tudo farei para ter sempre comigo! Obrigada, por fazeres parte do meu mundo!

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