quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma questão de confiança

Hoje cruzei-me com uma pessoa que foi, um dia, especial para mim. Quem é? Não interessa. Mesmo que interessasse, eu não saberia responder, porque há uns tempos, conheci nessa pessoa, uma pessoa nova.
Às vezes tenho um sexto sentido que me faz acreditar em alguém logo desde o princípio. Confio na minha intuição (normalmente não me engano!) e mergulho de cabeça. Entrego-me à amizade (ou a um projecto de amizade) com verdadeira devoção. Mas isso é só às vezes; por norma, não é assim que acontece.
Com a pessoa de quem falo, não foi assim que se passou. Não nos “gramámos” nem à primeira, nem à segunda, nem à terceira. Mas, por força das circunstâncias, fomos obrigados a conviver e lenta e reciprocamente, fomos desenvolvendo estima um pelo outro, que se transformou em admiração, que finalmente se transformou em amizade. Amizade daquela com “A” grande! (Pelo menos, pensava eu que sim).
Como dois amigos, acabámos por confiar um no outro. Demos um ao outro, um mundo novo: ele deixou-me entrar no dele e eu abri-lhe a porta do meu. Fiquei-lhe grata. Pela confiança que depositou em mim e depois por ter entrado no meu mundo, assim devagarinho para não me assustar, batendo à porta e limpando os pés no tapete da entrada.
Não sou pessoa de guardar rancores. Apesar de ter, como alguns dizem, “memória de elefante” (essa mesma que me permitiu decorar a tabela periódica de uma ponta à outra!), para os males da vida, aqueles que me fazem, sou selectiva e apago-os. Mas hoje quando vi essa pessoa, a quem um dia chamei amigo, senti o estômago revolver-se, como se tivesse comido alguma coisa estragada. Não percebi logo porquê, porque a minha memória selectiva tinha eliminado parte da informação - exactamente aquela parte relativa à origem ou causa do meu mal-estar. Compreendi que não podia escapar, que inevitavelmente iríamos cruzar-nos um com o outro. Pus o meu melhor sorriso, costas direitas, olhar em frente e fui repetindo para mim: “no pasa nada”; está tudo bem, és superior.
A abordagem foi interessante. Se não fosse o meu estômago revolto, a minha voz presa na garganta e a inércia das palavras em se articularem - aquilo a que eu chamo de memória da alma - iria duvidar que algo estivesse errado. Perguntei-me repetidamente: porque é que me sinto assim? Sabia que tinha razões, mas quais? Dei voltas e voltas à cabeça, enquanto caminhava em largas passadas (maior distância percorrida em cada passada, menos tempo até sairmos da situação constrangedora!). E de repente, como um flash, lembrei-me: ah!, pois, é verdade, já não me lembrava, traíste a minha confiança (coisa pequena!).

Impressionante como a coisa mais difícil de construir, é a mais frágil e fácil de destruir. Tão só um momento, que faz com que te tranque a porta do meu mundo, porque me deste uma única, mas incontornável certeza:

Nada mais será como antes.

1 comentário:

  1. Oi Rita!
    Deve ser este o teu nome.
    Bem na vadiagem pelos blogues que acompanho vim dar com o teu.
    Na verdade andava simplesmente à procura de letras para me reforçar, para reforçar aquilo que como dizes é mais importante para mim mesmo, a minha felicidade.
    Este teu post é simples, directo e de certa forma explicito naquilo ou na forma como devemos pensar e sentir as desilusões que nos passam pela vida.
    Passa no meu blog e quiçá nos possamos conhecer melhor, trocar ideias, debater o "estado da nação" lol.

    myyourmind.blogspot.com

    Jokita

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