
Meio Portugal percorrido, viemos parar ao Parque de Campismo de Albufeira (www.campingalbufeira.net).


De compras em Santiago, acabei por comprar “O Livro Negro do Estilo”, de Nina Garcia (Directora de Moda da Elle e da Marie Claire e júri no programa Project Runway, da SIC Mulher).

Hoje o tema é: as velhas (= senhoras idosas do nosso país, de dimensões normalmente avantajadas, com cara de poucos amigos e que reagem a tudo como se todos lhes devessem e ninguém lhes pagasse, por melhor que sejam as intenções de uma pessoa).
Pois, a verdade é que eu nutro um ódio de estimação por este “espécimen”.
Estas queridas senhoras, caracterizam-se por se plantarem à porta de bancos, postos médicos, correios, farmácias e repartição das finanças à hora de abertura, hora de almoço e por vezes hora de fecho dos mesmos estabelecimentos. E o mais engraçado: apesar de terem o dia inteiro para se dirigirem a estes serviços, é naquele preciso momento em que a pessoa está na fila do banco, correios ou repartição das finanças, com 20 minutos para tratar daquele único assunto que não pode ser tratado por internet e ainda almoçar alguma coisa antes de ir a correr para o trabalho, que as ditas senhoras têm sempre um caso inédito e de difícil resolução, entupindo os estabelecimentos e atrasando uma dezena de pessoas – que, à beira de um ataque de nervos, acabam por muitas vezes desistir e ter de lá voltar depois.
Quando num posto médico, são sempre as primeiras a ser atendidas, porque, independentemente de trazerem senha e o número da senha ser posterior ao nosso, são por regra diabéticas e por isso têm sempre prioridade. Eu acho muito bem que as pessoas diabéticas passem à frente, a mim o que me custa a crer é que todas estas lindas senhoras o sejam ou que esperar dez minutos pela sua vez, lhes faça pior ao pâncreas do que os bolinhos de manteiga que depois vão enfardar com as amigas para a pastelaria.
Nos transportes, o olhar reprovador e fulminante destas senhoras, caso uma pessoa não se levante de um salto para lhes ceder o seu lugar, também denuncía o respeito que têm pelo cidadão comum. Mas não se ficam pelo olhar (não!): se por acaso alguma alminha não se levantar para que Suas Excelências ocupem o lugar, é logo brindada com comentários refinados, citando sempre o “degredo” das gerações mais novas (“já não há respeito como antigamente”, “no meu tempo é que era”, “onde é que já se viu”!).
Mesmo que haja um lugar desocupado, há ainda a possibilidade de, caso esse lugar esteja ao nosso lado, a senhora se sentar, ocupando o lugar dela e metade do nosso e ainda olhar para nós, com cara de poucos amigos, como quem diz: “Então?, chegue-se para lá!”
Frequente é também ouvi-las tecer comentários variados, sempre muito simpáticos, sobre a vida dos outros ou sobre as escolhas alheias: “olha para aquela porcalhona desavergonhada, toda provocadora” (sobre a rapariga perfeitamente normal que teve a “desfaçatez” de escolher uma mini-saia perfeitamente normal para usar num dia de Verão perfeitamente normal). Aliás, não se ficam pelos comentários; ao que parece é comum no circuito destas senhoras, catalogar as pessoas por aquilo que vestem e aparentam. Soube de fonte segura que algumas simpáticas senhoras pensam que o meu namorado, aluno finalista de um curso de engenharia no Instituto Superior Técnico e um exemplo vivo de boa vontade, simpatia, respeito pelo próximo e sensatez, é “drógado”, pelo facto de gostar de se vestir com calças ao fundo do rabo!
E depois é vê-las ao domingo (sim, que eu também vou à missa ao domingo), a zelar pelos seus pecados, todas na missinha das 12h00 e depois na das 19h00… Mas é sol de pouca dura: à saída, se for preciso já se estão a acotovelar para ver quem sai primeiro e a bater com a bengala naquele jovem que não sai da frente porque tem mais uma centena de pessoas à sua frente a tentar sair da igreja, como ele…
Ora e perguntam vocês: porque é que eu me lembrei de escrever sobre este complexo tema? Porque justamente hoje, depois de ir buscar uma encomenda ao correio, uma senhora prostrou-se à frente do meu carro, fora da passadeira, atravessando como se não houvesse amanhã, pois que isto já se sabe que as ruas são todas delas! Eu travei e fiquei a vê-la passar, com toda a paciência e boa vontade do mundo. Acham que me agradeceu ou coisa que o valha? Nem pensar nisso! Ainda olhou para dentro do carro com ar ameaçador e autoritário, lá do alto da sua arrogância. A sério que me apeteceu abrir a janela e perguntar:
“Se não, o que é que faz? Dá-me com a bengala?! Mas olhe que eu corro mais que a senhora e além disso estou de carro. Faz queixa de mim ao Senhor Agente da Autoridade? Mas olhe que a senhora é que está a atravessar fora da passadeira!”
Mas será que não há ninguém que explique a estas senhoras que o respeito deve ser bilateral? Que as respeitamos enquanto cidadãs; que ser velha não é nenhum estatuto superior que se adquire e que o facto de serem idosas, mal-humoradas e terem uma barriga maior que a minha não lhes confere mais direitos que aos demais cidadãos, nomeadamente o de não respeitarem as outras pessoas?
Bem, já sabem, se eu for idosa, assim como as minhas duas avós, que embora idosas nunca foram velhas, tratem-me com carinho e amor, mas se algum dia eu for velha, façam o favor à sociedade de me despejar no primeiro lar que encontrarem!
