sábado, 18 de julho de 2009

Todos lhes devem e ninguém lhes paga


Esta terra inspira-me… A sério! Não é preciso esforçar-me muito para, se sair à rua, não me deparar logo com meia dúzia de peripécias sobre as quais me vai apetecer escrever.

Hoje o tema é: as velhas (= senhoras idosas do nosso país, de dimensões normalmente avantajadas, com cara de poucos amigos e que reagem a tudo como se todos lhes devessem e ninguém lhes pagasse, por melhor que sejam as intenções de uma pessoa).

Pois, a verdade é que eu nutro um ódio de estimação por este “espécimen”.

Estas queridas senhoras, caracterizam-se por se plantarem à porta de bancos, postos médicos, correios, farmácias e repartição das finanças à hora de abertura, hora de almoço e por vezes hora de fecho dos mesmos estabelecimentos. E o mais engraçado: apesar de terem o dia inteiro para se dirigirem a estes serviços, é naquele preciso momento em que a pessoa está na fila do banco, correios ou repartição das finanças, com 20 minutos para tratar daquele único assunto que não pode ser tratado por internet e ainda almoçar alguma coisa antes de ir a correr para o trabalho, que as ditas senhoras têm sempre um caso inédito e de difícil resolução, entupindo os estabelecimentos e atrasando uma dezena de pessoas – que, à beira de um ataque de nervos, acabam por muitas vezes desistir e ter de lá voltar depois.

Quando num posto médico, são sempre as primeiras a ser atendidas, porque, independentemente de trazerem senha e o número da senha ser posterior ao nosso, são por regra diabéticas e por isso têm sempre prioridade. Eu acho muito bem que as pessoas diabéticas passem à frente, a mim o que me custa a crer é que todas estas lindas senhoras o sejam ou que esperar dez minutos pela sua vez, lhes faça pior ao pâncreas do que os bolinhos de manteiga que depois vão enfardar com as amigas para a pastelaria.

Nos transportes, o olhar reprovador e fulminante destas senhoras, caso uma pessoa não se levante de um salto para lhes ceder o seu lugar, também denuncía o respeito que têm pelo cidadão comum. Mas não se ficam pelo olhar (não!): se por acaso alguma alminha não se levantar para que Suas Excelências ocupem o lugar, é logo brindada com comentários refinados, citando sempre o “degredo” das gerações mais novas (“já não há respeito como antigamente”, “no meu tempo é que era”, “onde é que já se viu”!).

Mesmo que haja um lugar desocupado, há ainda a possibilidade de, caso esse lugar esteja ao nosso lado, a senhora se sentar, ocupando o lugar dela e metade do nosso e ainda olhar para nós, com cara de poucos amigos, como quem diz: “Então?, chegue-se para lá!”

Frequente é também ouvi-las tecer comentários variados, sempre muito simpáticos, sobre a vida dos outros ou sobre as escolhas alheias: “olha para aquela porcalhona desavergonhada, toda provocadora” (sobre a rapariga perfeitamente normal que teve a “desfaçatez” de escolher uma mini-saia perfeitamente normal para usar num dia de Verão perfeitamente normal). Aliás, não se ficam pelos comentários; ao que parece é comum no circuito destas senhoras, catalogar as pessoas por aquilo que vestem e aparentam. Soube de fonte segura que algumas simpáticas senhoras pensam que o meu namorado, aluno finalista de um curso de engenharia no Instituto Superior Técnico e um exemplo vivo de boa vontade, simpatia, respeito pelo próximo e sensatez, é “drógado”, pelo facto de gostar de se vestir com calças ao fundo do rabo!

E depois é vê-las ao domingo (sim, que eu também vou à missa ao domingo), a zelar pelos seus pecados, todas na missinha das 12h00 e depois na das 19h00… Mas é sol de pouca dura: à saída, se for preciso já se estão a acotovelar para ver quem sai primeiro e a bater com a bengala naquele jovem que não sai da frente porque tem mais uma centena de pessoas à sua frente a tentar sair da igreja, como ele…

Ora e perguntam vocês: porque é que eu me lembrei de escrever sobre este complexo tema? Porque justamente hoje, depois de ir buscar uma encomenda ao correio, uma senhora prostrou-se à frente do meu carro, fora da passadeira, atravessando como se não houvesse amanhã, pois que isto já se sabe que as ruas são todas delas! Eu travei e fiquei a vê-la passar, com toda a paciência e boa vontade do mundo. Acham que me agradeceu ou coisa que o valha? Nem pensar nisso! Ainda olhou para dentro do carro com ar ameaçador e autoritário, lá do alto da sua arrogância. A sério que me apeteceu abrir a janela e perguntar:

“Se não, o que é que faz? Dá-me com a bengala?! Mas olhe que eu corro mais que a senhora e além disso estou de carro. Faz queixa de mim ao Senhor Agente da Autoridade? Mas olhe que a senhora é que está a atravessar fora da passadeira!”

Mas será que não há ninguém que explique a estas senhoras que o respeito deve ser bilateral? Que as respeitamos enquanto cidadãs; que ser velha não é nenhum estatuto superior que se adquire e que o facto de serem idosas, mal-humoradas e terem uma barriga maior que a minha não lhes confere mais direitos que aos demais cidadãos, nomeadamente o de não respeitarem as outras pessoas?

Bem, já sabem, se eu for idosa, assim como as minhas duas avós, que embora idosas nunca foram velhas, tratem-me com carinho e amor, mas se algum dia eu for velha, façam o favor à sociedade de me despejar no primeiro lar que encontrarem!

1 comentário:

  1. Já sabes o que penso sobre esse espécime!!!

    É ver as ditas senhoras a entrar no comboio antes de as pessoas que estão a sair sequer terem tempo de meter o pé no degrau... Levam tudo à frente e ainda fazem má cara!

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