Cheguei a Madrid bastante cansada. Tinha o meu carro no Parque de Estacionamento de Atocha e foi para lá que me dirigi sem hesitar. Abri a bagageira e coloquei a tralha toda lá dentro. Fechei a bagageira e voltei a trancar o carro. Fui então à procura de uma máquina onde pudesse pagar o Parque. Procurava a máquina, de ticket na mão, olhando ao redor, quando paro o olhar em alguém. Imobilizo-me. E depois decido caminhar até ao local:
- Perdón, necesita algo? – Um velhote, de casaco de fato amarrotado, calças velhas e sapatos coçados, revolvia o lixo de um caixote, distraidamente. Tinha-o visto abrir guardanapos usados, e sem encontrar nada, voltava a deitá-los no caixote e a revolver o lixo com as mãos.
Quando lhe faço a pergunta, o velhote percebe que há alguém a observá-lo e de um salto, vira-se de frente para mim e esconde as mãos com um guardanapo sujo atrás das costas, envergonhado, como uma criança que foi apanhada em flagrante a fazer asneiras. Responde-me:
- NA-DA, hija. – enquanto agita os ombros, mantendo as mãos atrás das costas. Quando me fala, fa-lo com um tom de voz que não denota nenhum tipo de insegurança e por isso seria levada a acreditar nele, se não tivesse visto o que vi. Sei que, de alguma forma, estou a mexer no seu orgulho próprio… Mas o homem tem fome. Que se lixe.
Abro a carteira e saco a primeira nota que tenho à mão. Vinte euros.
- Tomese, usted.
Estende a mão. Passo-lhe a nota. Não a agarra:
- No me des tanto. -, diz-me. (Não posso acreditar no que acabo de ouvir…)
- Perdón, necesita algo? – Um velhote, de casaco de fato amarrotado, calças velhas e sapatos coçados, revolvia o lixo de um caixote, distraidamente. Tinha-o visto abrir guardanapos usados, e sem encontrar nada, voltava a deitá-los no caixote e a revolver o lixo com as mãos.
Quando lhe faço a pergunta, o velhote percebe que há alguém a observá-lo e de um salto, vira-se de frente para mim e esconde as mãos com um guardanapo sujo atrás das costas, envergonhado, como uma criança que foi apanhada em flagrante a fazer asneiras. Responde-me:
- NA-DA, hija. – enquanto agita os ombros, mantendo as mãos atrás das costas. Quando me fala, fa-lo com um tom de voz que não denota nenhum tipo de insegurança e por isso seria levada a acreditar nele, se não tivesse visto o que vi. Sei que, de alguma forma, estou a mexer no seu orgulho próprio… Mas o homem tem fome. Que se lixe.
Abro a carteira e saco a primeira nota que tenho à mão. Vinte euros.
- Tomese, usted.
Estende a mão. Passo-lhe a nota. Não a agarra:
- No me des tanto. -, diz-me. (Não posso acreditar no que acabo de ouvir…)
- No, tomese usted. Para que coma. – Tento ser afável, embora saiba que normalmente tenho pouco jeito para o ser e que às vezes, pareço uma bota da tropa, quando a intenção é exactamente a contrária, mas enfim: tento dar o meu melhor.
Murmura “gracias”, vira costas e vai-se embora.
Enquanto caminho em direcção ao sítio onde posso pagar o Parque, tenho dúvidas se terei sido enganada pelo homem… Então peço a Deus um sinal de que fiz bem em ajudar o homem, se realmente assim tiver sido. O Parqueamento custa xx€85. Na carteira tenho três notas que perfazem o xx. No porta-moedas tenho um monte de moedas pequenas. Despejo o porta-moedas para a mão, sem fazer ideia de quanto posso ter e quando as vou contar – tudo moedinhas pretas – tenho exactamente 80 cêntimos, que entrego à pessoa que me está a cobrar. Faltam 5 cêntimos. Volto então a olhar para a mão para onde despejei a carteira, e vejo aí uma última moeda: 5 cêntimos.
Pois é, lá em Sines há pobres mas não daqueles que andam nos caixotes. Aqui são tantos, e desde que começou a crise pior. É a Silvia que costuma estar à porta do supermercado a quem costumo fazer compras, é o nigeriano cego de um olho que estaciona os carros à minha porta e que fala melhor inglês do que 95% dos espanhóis que conheço, é o manco que limpa os faróis dos carros no cruzamento de novos ministérios. E é um ciclo vicioso. Parece que uma vez ali, nunca mais de lá saem. Sorte a tua que pudeste dar uma nota de 20€, quando se vê disto todos os dias não dá. Beijinhos grandes.
ResponderEliminarO sinal não podia ter sido mais inequívoco, pois não? Ainda bem, temos de acreditar. Obrigada por esses 20 euros.
ResponderEliminarHá uns fins de semana o meu Pai contou-me uma história mtooo parecida. A explicação dada pelo sem abrigo, q para mim faz sentido, é que se ele for apanhado por 20 euros pelos outros sem abrigo, leva porrada até os entregar. Senão assaltam-no. O certo é que dar-lhes dinheiro assim "gordo" é o pior que podes fazer. Pra próxima vais ao bar mais próximo, compras comida com 20 euros e dás-lhe. Palavras de sem abrigo em Braga, e olha que mtos deles o são por "opção". Um abraço e boa vida por Madrid :)
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